
A franquia Premonição sempre teve um lugar especial no coração dos fãs de terror. Desde o ano 2000, quando o primeiro filme chegou aos cinemas, o público passou a temer tudo ao redor, questionando se um fio solto ou uma placa de trânsito poderiam ser instrumentos do destino. E agora, em 2025, Premonição 6: Laços de Sangue surge como a continuação mais ousada da saga, trazendo novos personagens, mortes impactantes e discussões sobre o uso de efeitos visuais. Neste artigo, vamos analisar os pontos altos e baixos do longa, contextualizando suas referências e ressaltando os detalhes que só os mais atentos perceberam.
A Fórmula Consagrada Que Ainda Funciona

Para quem não está familiarizado, Premonição é conhecida por seu conceito peculiar: alguém tem uma visão de um acidente mortal e, ao evitar a tragédia, provoca uma série de mortes bizarras, pois a “morte” volta para corrigir o que foi interrompido. Esse padrão se mantém em Laços de Sangue, mas com algumas atualizações sutis. A cena inicial, tradicionalmente grandiosa, se passa em um restaurante panorâmico dentro de uma torre, cenário perfeito para provocar claustrofobia e tensão. Diferente dos filmes anteriores, aqui a sequência de mortes tem uma construção mais meticulosa e menos previsível.
Por outro lado, não dá para ignorar algumas falhas. Embora a atmosfera funcione e as situações sejam angustiantes, certos efeitos visuais deixam a desejar. Em um tempo onde o cinema independente entrega produções sangrentas com maquiagem prática e criatividade, é frustrante ver CGI mal integrado. Um exemplo claro disso ocorre na morte de Íris, onde uma lança atravessa seu crânio de maneira artificial. Fica evidente que, se houvesse mais dedicação aos efeitos práticos — como visto em Evil Dead ou O Exorcista — o impacto seria maior.
Ao longo da franquia, algumas cenas se tornaram icônicas. Quem assistiu ao segundo filme, lançado em 2003, jamais esqueceu a cena do acidente na estrada, onde toras de madeira despencam de um caminhão e destroem carros em sequência. Em Laços de Sangue, os roteiristas fazem questão de prestar homenagem a esse momento. No desfecho, troncos de madeira voltam a aparecer em um ato inesperado que mistura fan service e brutalidade.
Outro detalhe interessante está na maneira como o filme manipula a expectativa do público. A morte do Tio, por exemplo, é precedida por um caco de vidro posicionado estrategicamente em cena. Durante vários minutos, a câmera insiste em mostrar o objeto, o que leva o espectador a acreditar que ele será o causador da próxima tragédia. No entanto, o roteiro surpreende ao utilizar o vidro de forma indireta, o que deixa a sequência ainda mais tensa e criativa.
Além disso, a personagem Íris, nova “visionária” da vez, carrega o fardo de antecipar os acidentes. Embora tenha pouco tempo em tela, sua atuação é suficientemente carismática para gerar empatia. Essa conexão emocional é vital em uma série onde os personagens, na maioria das vezes, são apresentados apenas para morrer em seguida. Íris consegue transmitir pânico e urgência, o que contribui para manter a tensão sempre elevada.
Mortes Inusitadas e Um Roteiro Que Brinca com a Lógica

Um dos maiores atrativos de Premonição sempre foram as mortes elaboradas, e Laços de Sangue não decepciona nesse quesito. A sequência mais comentada é a do personagem Eric. Inicialmente, tudo leva a crer que ele escapará ileso. No entanto, uma situação aparentemente inofensiva toma um rumo aterrorizante quando o piercing de Eric é puxado de forma brutal, causando uma morte dolorosa e inesperada. Essa cena é um bom exemplo de como o filme manipula a previsibilidade para chocar.
Porém, nem todas as mortes são igualmente inventivas. A da prima da protagonista, por exemplo, soa preguiçosa. Após levar uma bolada na cabeça, a jovem cai em um cesto de lixo e é esmagada. Embora funcione dentro do contexto do filme, a cena parece improvisada, como se a criatividade da equipe tivesse se esgotado. Felizmente, esse deslize não compromete o ritmo do longa.
Outro ponto que merece destaque é a forma como o roteiro aborda as regras da morte. Nos filmes anteriores, ficou estabelecido que o destino não deixa pontas soltas. Contudo, aqui surge uma situação curiosa: a protagonista, ao acreditar que havia morrido e sido ressuscitada, faz com que a própria morte “esqueça” dela temporariamente. Só quando outro personagem revela a verdade é que a entidade retoma sua caçada. Essa brecha lógica levanta questionamentos e poderia ter sido melhor amarrada.
O filme resgata elementos visuais e narrativos dos anos 2000, como a trilha sonora carregada de guitarras e as mortes sangrentas filmadas em closes sufocantes. Para quem cresceu assistindo aos primeiros títulos da série, esse retorno às origens é reconfortante. Apesar de alguns deslizes técnicos, a obra entende o que os fãs esperam e entrega cenas suficientemente brutais para satisfazer o público mais exigente.
Outro fator importante é que, mesmo sendo o sexto filme, a trama não tenta reinventar a fórmula. Isso é positivo, pois evita as armadilhas que outras franquias caíram ao tentar se modernizar demais. Ao invés disso, Premonição 6 se assume como um filme de terror B de luxo, consciente de suas limitações e qualidades. Esse equilíbrio garante que o público se divirta e sinta o mesmo frio na barriga das produções anteriores.
Vale ressaltar que a atuação do primo tatuador rebelde é um dos pontos altos. Diferente dos colegas de elenco, ele consegue passar naturalidade e parece realmente não se importar com os acontecimentos sobrenaturais. Essa postura contrasta bem com o desespero dos outros personagens, criando momentos cômicos que aliviam a tensão sem descaracterizar o filme.
Premonição 6: Laços de Sangue acerta ao manter a essência da franquia. As mortes continuam criativas, a cena inicial é sufocante e há boas doses de nostalgia. Embora peca no uso excessivo de CGI e em algumas atuações questionáveis, o longa compensa esses deslizes com sequências tensas e referências bem colocadas.
Para quem já é fã, o filme oferece tudo o que se espera: mortes elaboradas, momentos de tensão e aquela sensação de que qualquer objeto ao redor pode se tornar mortal. Já para os novatos, talvez falte um pouco de contexto, mas ainda assim vale pela diversão despretensiosa. Premonição: Laços de Sangue prova que, mesmo após duas décadas, a franquia ainda sabe como manter o público preso à cadeira — ou olhando desconfiado para a torradeira mais próxima.
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