
Desde que os primeiros jogos eletrônicos chegaram aos consoles domésticos, alguns personagens deixaram marcas tão profundas que atravessaram décadas. Um desses nomes é Simon Belmont, o lendário caçador de vampiros que carregou nos ombros o peso da linhagem Belmont, e enfrentou o próprio Conde Drácula em batalhas que definiram não apenas o destino de seu mundo fictício, mas também moldaram a forma como os games de terror e aventura seriam lembrados.
Ainda que muitas pessoas conheçam a franquia Castlevania, poucos sabem das nuances e detalhes que cercam esse personagem, que hoje faz parte da essência da cultura geek sombria. Por isso, neste artigo, vamos revisitar a história de Simon Belmont de maneira acessível, explicando referências e curiosidades que até os fãs mais casuais podem não ter percebido.
A Linhagem Belmont, o Chicote e Castlevania

Para entender a importância de Simon Belmont, é necessário antes falar sobre sua origem. Ele nasceu por volta do ano de 1669, em meio a uma linhagem lendária de guerreiros. Os Belmont são conhecidos por dedicarem suas vidas ao combate das forças das trevas, uma tradição que atravessou gerações e se manteve viva através do tempo. Diferente de caçadores comuns, os Belmont possuem acesso a uma arma única: o Vampire Killer, um chicote sagrado passado de geração em geração. Essa arma não é apenas simbólica, mas também mística, forjada para derrotar criaturas sobrenaturais e, acima de tudo, Drácula, o maior inimigo da humanidade naquele universo sombrio.
O Vampire Killer não é um chicote comum. Ele carrega em seus elos a benção de forças divinas, permitindo que seu portador enfrente monstros e demônios que seriam inatingíveis para qualquer mortal comum. Ao longo dos anos, a arma também passou por modificações, sendo vista em versões com espinhos, corrente de aço e até mesmo atributos mágicos. Simon, ao herdar essa responsabilidade, sabia que sua missão não era apenas pessoal. Ele precisava proteger toda uma civilização que sequer tinha consciência do perigo iminente.
O confronto mais emblemático de Simon Belmont aconteceu em Castlevania, lançado originalmente em 1986 para o console NES. Na trama, o Conde Drácula havia retornado à vida, e com ele, hordas de monstros ameaçavam as aldeias e cidades. Sem hesitar, Simon empunhou o Vampire Killer e invadiu o castelo sombrio, um local repleto de armadilhas, criaturas grotescas e salas ameaçadoras. Naquele cenário macabro, o personagem enfrentou de tudo: esqueletos armados, zumbis, morcegos demoníacos e até uma Medusa.
Ao final dessa missão, Simon conseguiu derrotar Drácula. No entanto, sua vitória teve um preço alto. Gravemente ferido e amaldiçoado pelas últimas palavras do vampiro, Simon deixou o castelo ciente de que algo terrível ainda o acompanhava. Essa narrativa simples, mas eficiente, foi responsável por consolidar o personagem como um ícone instantâneo dos games.
A Maldição e as Reimaginações

O que torna a trajetória de Simon Belmont ainda mais sombria é o que veio depois. Em Castlevania II: Simon’s Quest, lançado em 1987, o herói descobre que foi amaldiçoado durante sua batalha anterior. Diferente de muitas histórias onde o bem triunfa sem consequências, aqui Simon percebe que está sendo lentamente consumido pela maldição de Drácula, que envenenava seu corpo e sua alma.
Para se libertar desse fardo, ele precisa reunir as partes restantes do corpo de Drácula — espalhadas por cemitérios e vilarejos — e destruí-las num ritual profano. Esse enredo inovador para a época deu ao jogo um tom mais introspectivo e sombrio. Além disso, introduziu elementos que até então eram raros em jogos de ação: exploração não-linear, diálogos enigmáticos com NPCs e escolhas que influenciavam o rumo da aventura. Muitos jogadores, inclusive, ficaram intrigados com a atmosfera sinistra e a trilha sonora melancólica, que tornaram a experiência ainda mais intensa.
Anos depois, Super Castlevania IV chegou ao Super Nintendo em 1991. Diferente do que muitos imaginam, este não é uma sequência, mas sim uma reinterpretação do Castlevania original, atualizando mecânicas e gráficos. Neste game, Simon volta a enfrentar o castelo de Drácula, agora com novas habilidades, como a capacidade de balançar o chicote em várias direções — um recurso inédito que revolucionou a dinâmica dos jogos de ação da época.
Essa versão do personagem foi considerada mais refinada, tanto em visual quanto em narrativa. O cenário ganhou riqueza de detalhes, e a trilha sonora orquestrada conferiu ainda mais peso dramático à aventura. Simon Belmont, aqui, assume definitivamente a imagem de herói trágico e determinado, consolidando sua posição como símbolo máximo da franquia Castlevania.
A influência de Simon Belmont não ficou restrita aos videogames. Ele foi incorporado em crossovers, como Super Smash Bros. Ultimate, onde divide espaço com personagens históricos de diversas franquias. Além disso, Simon apareceu em adaptações animadas e revistas em quadrinhos, embora com diferentes interpretações de sua personalidade e visual.
Durante os anos 80 e 90, ele foi tratado como um verdadeiro símbolo da cultura nerd sombria. Sua imagem de guerreiro medieval, armado com um chicote e determinado a caçar vampiros, influenciou inúmeros outros personagens de games e filmes. Alguns exemplos claros são Gabriel Belmont, de Lords of Shadow, e até heróis como Kratos, de God of War, que carregam traços do herói gótico e brutal idealizado por Simon.
A Importância na Mitologia Belmont

Pouca gente sabe, mas dentro da cronologia japonesa de Castlevania, a maldição de Simon é um dos eventos mais sombrios da história do clã Belmont. Alguns materiais indicam que o personagem chegou a ter alucinações enquanto atravessava o castelo de Drácula em sua segunda incursão. Isso explicaria o comportamento estranho de NPCs e a ambientação surreal de Simon’s Quest. Esses elementos foram suavizados nas versões ocidentais, mas fazem parte da mística original da saga.
Essa narrativa mais sombria reforça a ideia de que Simon não é apenas um guerreiro, mas também uma vítima das circunstâncias. Ele enfrenta não só monstros, mas também seus próprios demônios interiores, o que o aproxima da figura do herói trágico das histórias góticas.
Vale lembrar que o Vampire Killer, a arma usada por Simon, tem uma história tão rica quanto a do próprio personagem. Segundo as lendas da franquia, o chicote foi criado séculos antes, por Rinaldo Gandolfi, para que a família Belmont pudesse enfrentar o mal de igual para igual. Ele é o único artefato conhecido que pode destruir Drácula de forma definitiva, motivo pelo qual a linhagem Belmont é constantemente perseguida por cultistas e criaturas demoníacas.
O chicote também se tornou um ícone visual, sendo imediatamente reconhecível pelos fãs da série. Até mesmo fora dos games, o Vampire Killer aparece em artes promocionais, colecionáveis e produções animadas baseadas no universo de Castlevania.
Simon Belmont representa a essência do horror gótico digital, carregando o peso da tradição, da tragédia e da redenção. Enquanto a franquia Castlevania continua a se reinventar, Simon permanece como um dos nomes mais lembrados e respeitados, seja por veteranos dos consoles antigos ou por novos jogadores que o conheceram em títulos modernos.
Ao longo das décadas, sua luta contra Drácula e contra seus próprios limites transformou-se numa lenda que ultrapassa os limites dos jogos. E mesmo quem nunca empunhou o Vampire Killer ou adentrou as muralhas do castelo sinistro conhece, ainda que de forma indireta, a sombra daquele guerreiro obstinado que ousou enfrentar a noite eterna.
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