
Em 2016, James Wan voltou a provar que o terror não precisa apenas assustar, mas também envolver o espectador em uma narrativa com peso dramático e raízes no mundo real. Invocação do Mal 2 levou Ed e Lorraine Warren, já conhecidos por suas investigações paranormais nos Estados Unidos, para uma atmosfera totalmente diferente: o subúrbio londrino de Enfield, no fim da década de 1970. Inspirado em um dos casos mais famosos da paranormalidade moderna, o chamado “Poltergeist de Enfield”, o filme mistura elementos factuais com licenças criativas para entregar uma experiência que mexe tanto com o medo quanto com a curiosidade.
Ao longo das décadas, histórias de casas mal-assombradas surgiram aos montes, mas poucas ganharam repercussão global como a que envolveu a família Hodgson. Para quem não está familiarizado, este caso se tornou manchete em jornais e programas de TV, dividindo a opinião pública entre céticos e crentes. Ao transportar esse enredo para as telas, Wan não apenas recriou uma atmosfera carregada de tensão, mas também deu vida a uma narrativa que dialoga com a própria natureza do medo humano: o medo do invisível.
O Caso de Enfield

Antes de falar sobre o impacto do filme, é importante entender o que foi o Poltergeist de Enfield. Entre 1977 e 1979, uma família britânica passou a relatar fenômenos estranhos dentro de sua casa — móveis se movendo sozinhos, batidas nas paredes e vozes vindas do nada. A protagonista involuntária dessa história era Janet Hodgson, então com 11 anos, que chegou a ser filmada e fotografada em situações que, para os crentes, seriam prova de possessão ou atividade sobrenatural.
O termo “poltergeist” vem do alemão e significa literalmente “espírito barulhento”. No contexto paranormal, descreve manifestações físicas inexplicáveis, como objetos voando ou portas batendo sem causa aparente. No caso de Enfield, além de ruídos, havia o relato de uma entidade que dizia se chamar Bill Wilkins — supostamente um homem que viveu e morreu na casa anos antes.
A imprensa britânica da época explorou cada detalhe, e investigadores do Society for Psychical Research (Sociedade para Pesquisa Psíquica) acompanharam o caso, documentando eventos e tentando entender a origem do fenômeno. Enquanto alguns afirmavam que Janet estava inventando parte das ocorrências, outros garantiam que nem tudo poderia ser explicado como fraude. Essa divisão entre ceticismo e crença seria justamente um dos pontos explorados por Invocação do Mal 2.
No universo do terror, poucas figuras reais ganharam tanto destaque quanto Ed e Lorraine Warren. Ele, um demonologista autodidata; ela, uma médium vidente. Juntos, se envolveram em investigações que até hoje alimentam debates. Casos como a casa de Amityville e a possessão de Arne Johnson se tornaram parte da cultura pop graças ao trabalho deles — e, claro, às adaptações cinematográficas.
No filme, Patrick Wilson e Vera Farmiga retornam a esses papéis com uma química e entrega que conquistaram o público desde o primeiro Invocação do Mal. Ao inserir os Warren no caso de Enfield, James Wan reforça a ideia de um universo interligado, onde cada investigação acrescenta peças a um quebra-cabeça maior: o chamado The Conjuring Universe. Mesmo que, na vida real, a participação deles no caso tenha sido mais breve e questionada por alguns, no cinema eles se tornam peças-chave para a resolução do conflito.
A Construção do Medo

James Wan não é apenas um diretor de terror; ele é um estrategista do medo. Em Invocação do Mal 2, a maneira como a câmera se move dentro da casa Hodgson é tão importante quanto os próprios sustos. Planos longos, sem cortes, criam uma sensação de vigilância constante, como se algo estivesse sempre à espreita. O uso do som é igualmente preciso: um ranger de porta ou um estalo na madeira ganha peso dramático porque é colocado no momento exato.
Além disso, Wan utiliza a figura demoníaca de Valak, a freira, como um fio condutor que liga este filme ao anterior e ao futuro do universo. Essa escolha dá ao público não apenas um antagonista memorável, mas também um símbolo visual do medo. A freira demoníaca se tornou tão icônica que ganhou seu próprio spin-off, A Freira (2018).
Um dos elementos mais fascinantes de Invocação do Mal 2 é a forma como ele transita entre o que foi documentado e o que é puramente criação artística. No caso real, muito se discutiu sobre a autenticidade das provas — inclusive houve momentos em que Janet foi flagrada tentando provocar fenômenos por conta própria, o que deu munição para os céticos. No filme, essa ambiguidade também aparece, mas é usada para criar um ponto de virada na trama: a revelação de que Bill Wilkins não passa de um fantoche manipulado por Valak.
Esse equilíbrio entre realidade e fantasia é o que mantém o espectador engajado. Mesmo quem não acredita em fantasmas consegue se interessar pela narrativa porque ela é construída como um quebra-cabeça psicológico.
Se o filme funciona tão bem, grande parte do mérito está no elenco. Madison Wolfe, no papel de Janet, entrega uma performance impressionante para sua idade, alternando momentos de fragilidade e agressividade com naturalidade assustadora. Vera Farmiga e Patrick Wilson, mais uma vez, demonstram a química que dá credibilidade ao casal Warren, equilibrando o drama pessoal com o horror sobrenatural.
Outro detalhe que merece destaque é como Wan insere momentos de respiro emocional no meio do terror. A cena em que Ed canta “Can’t Help Falling in Love” para a família Hodgson, por exemplo, humaniza o personagem e cria um contraste que torna os momentos de tensão ainda mais impactantes.
Lançado em junho de 2016, Invocação do Mal 2 foi um sucesso de crítica e bilheteria, arrecadando mais de US$ 320 milhões pelo mundo. Mais do que números, o filme consolidou James Wan como um dos grandes nomes do terror contemporâneo e ampliou o alcance do The Conjuring Universe.
O caso de Enfield, por sua vez, voltou a ganhar atenção, sendo revisitado em documentários, podcasts e outras produções. Para muitos espectadores, o filme foi o primeiro contato com essa história, que permanece cercada de mistério mesmo décadas depois.
O que torna Invocação do Mal 2 mais do que um simples filme de sustos é sua habilidade de trabalhar o terror como reflexo de vulnerabilidades humanas. O medo da perda, o peso da descrença e a luta contra forças invisíveis são temas universais, mesmo para quem nunca viu um fenômeno paranormal.
James Wan acerta ao não depender exclusivamente de efeitos visuais. Ao contrário, ele aposta em atuações consistentes, ambientações verossímeis e um ritmo que alterna calmaria e explosão. Isso faz com que a tensão se construa de forma gradual, mantendo o espectador sempre em estado de alerta.
Invocação do Mal 2 é um exemplo de como o cinema de terror pode beber da realidade para criar algo que ultrapassa a tela. Ao misturar o caso real de Enfield com a mitologia do universo criado por Wan, o filme conquista tanto os fãs de histórias sobrenaturais quanto os curiosos por mistérios não resolvidos.
Mesmo que você não acredite em fantasmas, é impossível negar a eficácia de uma boa narrativa quando ela é conduzida por um diretor que entende o gênero. E talvez esse seja o maior mérito de Invocação do Mal 2: fazer o espectador se perguntar, ao apagar as luzes… e se for verdade?
E você, conte nos comentários a sua opinião e compartilhe suas próprias experiências sobrenaturais.
Fonte: wiki
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