
Em 2021, o universo do terror recebeu mais um capítulo da história que já se tornou sinônimo de tensão, sustos e investigações paranormais. Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio chegou aos cinemas trazendo novamente Patrick Wilson e Vera Farmiga como Ed e Lorraine Warren, o casal de demonologistas mais famoso da cultura pop contemporânea. Mas, desta vez, o foco não é uma casa mal-assombrada ou uma possessão isolada: a trama mergulha em um caso real que abalou a justiça americana nos anos 1980, misturando possessão demoníaca, assassinato e um julgamento que entrou para a história.
Para quem ainda não está familiarizado, Ed e Lorraine Warren não são personagens de ficção. Eles existiram de verdade e construíram carreira investigando casos sobrenaturais, tornando-se figuras centrais em diversos relatos de assombrações nos Estados Unidos. A franquia Invocação do Mal se inspira em seus arquivos mais famosos, adaptando-os para o cinema de maneira intensa e, muitas vezes, perturbadora.
Do Caso Real à Tela do Cinema

A trama de Invocação do Mal 3 se passa em 1981, e sua base é o julgamento de Arne Cheyenne Johnson — o primeiro caso nos Estados Unidos em que a defesa alegou possessão demoníaca como justificativa para um assassinato. Na vida real, o caso ficou conhecido como “The Devil Made Me Do It” (“O Diabo Me Fez Fazer Isso”), título original do filme. Esse julgamento foi amplamente documentado, incluindo no livro The Devil in Connecticut, escrito por Gerald Brittle.
No filme, a história começa com o exorcismo de David Glatzel, um garoto de apenas oito anos, que já está no limite físico e mental devido à suposta presença de um demônio em seu corpo. Ed e Lorraine, juntamente com a família do menino e um padre, tentam livrá-lo da entidade. É nesse momento que Arne Johnson, namorado da irmã de David, decide se sacrificar e “convida” o demônio a possuí-lo. Para espectadores leigos, esse tipo de troca — onde um indivíduo oferece seu corpo para uma entidade — é um elemento recorrente em narrativas de possessão, mas no contexto do caso real, foi um ponto central para a defesa de Arne.
O longa deixa claro que, após o exorcismo, Ed sofre um ataque cardíaco e passa dias inconsciente no hospital. Ao acordar, ele alerta Lorraine de que o mal agora está com Arne. Lorraine, que no universo dos filmes possui habilidades psíquicas, pede que a polícia fique atenta, pois acredita que algo terrível está prestes a acontecer.
Não demora para que Arne, sob a influência da entidade, assassine brutalmente seu senhorio, Bruno Sauls, com 22 facadas. O que poderia ser interpretado como um crime passional ganha contornos sobrenaturais na narrativa dos Warren. É aí que começa a investigação — não para inocentar Arne de forma convencional, mas para provar que ele foi vítima de forças além da compreensão humana.
Ao contrário dos dois primeiros filmes da franquia, que giravam em torno de casas mal-assombradas e aparições clássicas, Invocação do Mal 3 leva a trama para ruas, tribunais e florestas, ampliando o escopo do perigo. Isso pode surpreender fãs que esperam o padrão tradicional, mas também enriquece o universo da franquia ao mostrar que o mal não se limita a um endereço específico.
A investigação conduz os Warren até um ex-padre chamado Kastner, que já havia enfrentado um culto satânico conhecido como Discípulos do Carneiro. Aqui, é importante destacar para o público não familiarizado que a figura do “totem” usada no filme não é mera invenção de roteiro. Totens ou objetos amaldiçoados fazem parte de diversas tradições ocultistas e são descritos como portadores de energias negativas capazes de atrair ou direcionar influências malignas. No caso da história, o totem foi deixado intencionalmente para criar uma maldição sobre a família Glatzel, ligando David e, posteriormente, Arne, ao demônio.
A atmosfera visual também reforça a mudança de tom. Michael Chaves, que assume a direção após James Wan, opta por ambientes mais abertos, mas sem perder o peso do suspense. As florestas são escuras e claustrofóbicas, mesmo sem paredes. A direção de arte mistura tons frios e luzes amareladas para contrastar momentos de investigação e de terror, criando uma sensação constante de que algo está prestes a acontecer.
O Peso do Caso na Vida Real

Patrick Wilson e Vera Farmiga continuam sendo a alma da franquia. Mais do que interpretar caçadores de fantasmas, eles dão vida a um casal que equilibra amor e coragem diante do inexplicável. Essa relação é um dos pontos mais elogiados pelos fãs e aqui ela ganha mais peso emocional. Ed, debilitado pelo ataque cardíaco, precisa lidar com sua fragilidade física, enquanto Lorraine enfrenta visões cada vez mais perturbadoras, colocando sua própria vida em risco para proteger Arne.
O elenco secundário também se destaca. Ruairi O’Connor interpreta Arne com uma mistura de vulnerabilidade e desespero, algo essencial para que o espectador compreenda a gravidade de sua situação. Sarah Catherine Hook, como Debbie, transmite a tensão de quem ama alguém que está à beira do colapso — ou pior, sob influência direta de algo sobrenatural. Julian Hilliard, como David, embora apareça menos, entrega intensidade em suas cenas de possessão, algo fundamental para dar credibilidade ao enredo.
Para além da ficção, o caso de Arne Cheyenne Johnson dividiu opiniões nos anos 80. Enquanto alguns viam a defesa como uma tentativa desesperada de evitar a condenação, outros acreditavam que forças sobrenaturais estavam realmente envolvidas. Ed e Lorraine Warren participaram ativamente do caso, prestando depoimentos e oferecendo suas investigações como evidência.
O filme aproveita essa controvérsia para criar tensão. Afinal, quando o sobrenatural entra em um tribunal, a batalha não é apenas contra o mal invisível, mas também contra a descrença coletiva. Para quem está acostumado a ver histórias de terror confinadas a casas isoladas, esse cenário jurídico oferece uma nova perspectiva: como provar que o invisível existe diante de pessoas que exigem evidências concretas?
Apesar de manter o núcleo emocional e sobrenatural que consagrou a franquia, Invocação do Mal 3 tem um ritmo diferente. O afastamento do formato clássico de “investigação em uma casa mal-assombrada” pode frustrar parte do público, mas também demonstra que a franquia busca não se repetir.
Michael Chaves imprime sua própria assinatura, mas inevitavelmente sofre comparações com James Wan. A tensão ainda está presente, mas o medo é menos construído no silêncio e mais reforçado por sustos diretos e aparições repentinas. Por outro lado, a trama ganha pontos ao unir elementos de terror sobrenatural com investigação criminal, tornando a narrativa mais ampla.
Do ponto de vista emocional, o filme é mais intenso que os anteriores. O amor entre Ed e Lorraine é colocado em teste constante, reforçando a ideia de que a conexão entre eles é tão poderosa quanto qualquer ritual de proteção. Essa camada romântica não enfraquece o terror; ao contrário, dá mais peso às consequências das ações dos personagens.
Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio é, sem dúvida, um capítulo importante dentro da franquia. Ele mostra que o mal não precisa estar preso a paredes ou sótãos — ele pode se infiltrar na vida de qualquer pessoa, em qualquer lugar. Embora apresente mudanças no ritmo e na estrutura, mantém a essência que tornou os filmes anteriores tão marcantes: a união de suspense, elementos sobrenaturais e o vínculo inquebrável entre Ed e Lorraine Warren.
Para fãs, é mais uma oportunidade de revisitar personagens queridos em um contexto novo. Para quem está chegando agora ao universo, é uma porta de entrada que mistura terror, drama e investigação. Talvez não seja o mais assustador da franquia, mas certamente é um dos mais humanos.
💬 E você? Já assistiu Invocação do Mal 3? Acredita que casos sobrenaturais podem influenciar crimes reais ou acha que tudo não passa de coincidência? Deixe sua opinião nos comentários.
Fonte: wiki
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