
A mitologia nórdica é uma fonte inesgotável de histórias fascinantes, mas ainda pouco explorada fora dos clássicos quadrinhos da Marvel e da literatura de autores renomados como Robert E. Howard. Quando pensamos em cinema, raras são as produções que abraçam as crenças escandinavas de maneira impactante. Entre essas exceções, o filme britânico O Ritual (2017), dirigido por David Bruckner, se destaca como um exemplo de horror envolvente, repleto de nuances mitológicas. Disponível na Netflix em grande parte do mundo, essa obra combina elementos psicológicos e sobrenaturais para criar uma experiência memorável. Mas o que torna essa história tão especial?
A Trilha que Conecta o Passado e o Presente

O Ritual começa com um evento marcante que estabelece um tom sombrio para toda a narrativa. Cinco amigos de longa data decidem planejar uma viagem em memória de Rob (Paul Reid), um dos integrantes do grupo que perdeu a vida durante um assalto a uma loja de conveniência. A tragédia não apenas os abala, mas também deixa cicatrizes emocionais, principalmente em Luke (Rafe Spall), que presenciou o ocorrido sem reagir. A escolha da Suécia como destino parece, à primeira vista, uma tentativa de reconectar os laços de amizade, mas logo se transforma em algo muito mais inquietante.
Ao se aventurarem por uma densa floresta escandinava, o grupo rapidamente percebe que o local guarda segredos sombrios. As tensões entre os amigos vão crescendo conforme eles enfrentam desafios inesperados. Para um espectador mais atento, a floresta é muito mais do que um cenário: ela é quase um personagem, viva, pulsante e repleta de simbologias que remetem à mitologia nórdica.
Um dos pontos mais intrigantes do filme é a criatura que assombra os personagens. Revelada como um Jotun, ela é uma figura central na mitologia nórdica. Os Jotnar (plural de Jotun) são conhecidos como gigantes que frequentemente representam o caos e as forças da natureza. A criatura, descrita como um descendente de Loki, é capaz de manipular a realidade, criando ilusões para confundir suas vítimas.
No contexto do filme, essas ilusões servem não apenas para desorientar os personagens, mas também para explorar seus medos mais profundos. Luke, por exemplo, revive constantemente o trauma da morte de Rob, o que o faz questionar sua própria coragem e lealdade. A presença do Jotun é uma alegoria para a luta interna de cada personagem, simbolizando o confronto entre o homem e seus demônios pessoais.
Outro aspecto fascinante é como o design da criatura se alinha às descrições mitológicas. Seu aspecto grotesco, quase alienígena, é uma interpretação visual impressionante que mistura elementos animais e humanos, reforçando sua conexão com as forças primitivas da natureza.
Terror com Propósito e Reconhecimento Crítico

Apesar de seu enredo relativamente simples, O Ritual conquistou a audiência e a crítica por sua abordagem atmosférica e atuações consistentes. No Rotten Tomatoes, o filme tem uma aprovação de 73%, com os críticos destacando o uso eficaz do cenário escandinavo e a dedicação do elenco. O Metacritic, por sua vez, registra uma pontuação de 57/100, indicando uma recepção mista. Contudo, é importante notar que as opiniões divergentes geralmente refletem as expectativas diferentes dos espectadores em relação ao gênero de terror.
O roteiro de Joe Barton é bem estruturado, equilibrando momentos de calmaria com cenas de puro desespero. O desfecho, em particular, é digno de nota por sua originalidade e simbolismo. É raro encontrar um filme de terror que consiga criar um equilíbrio entre o horror psicológico e o sobrenatural de maneira tão eficaz.
Um dos temas mais marcantes em O Ritual é o confronto com a culpa e o arrependimento. Luke é atormentado não apenas pela perda de seu amigo, mas também por sua inatividade durante o assalto. Essa questão é explorada de maneira sutil, mas poderosa, ao longo da narrativa. Cada personagem traz suas próprias fraquezas à tona enquanto enfrentam o desconhecido, mostrando como o medo pode tanto unir quanto separar.
Outro aspecto interessante é a utilização do ambiente como um espelho para os conflitos internos. A floresta, com sua vastidão e incerteza, simboliza o estado emocional dos personagens, que se veem perdidos tanto fisicamente quanto emocionalmente. Além disso, o uso de elementos da mitologia nórdica adiciona camadas de complexidade, tornando o filme um banquete para os amantes de simbolismos.
O Ritual é uma obra que convida o espectador a refletir sobre suas próprias lutas internas enquanto se perde em um cenário misterioso e assustador. Com uma narrativa bem elaborada, elementos mitológicos intrigantes e atuações convincentes, ele é uma prova de que o gênero de terror ainda tem muito a oferecer. Se você é fã de histórias que desafiam sua percepção e deixam uma impressão duradoura, este filme é uma escolha imperdível.
Fonte: Wiki
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